Os oceanos vem enfrentando ameaças emergentes e de extrema relevância decorrentes da poluição. Descarte indevido de resíduos sólidos, especialmente plásticos, além de fontes de luz, som e poluição química podem se originar de diferentes fontes, principalmente antropogênicas, ou seja, oriundas direta ou indiretamente da ação humana. Nas últimas décadas, a poluição química tem sido extensivamente avaliada, especialmente em função do grande desenvolvimento industrial em áreas costeiras, e também do uso de pesticidas utilizados na agricultura. Muitos podem se perguntar, por exemplo, como pesticidas são capazes de afetar ecossistemas marinhos, já que são utilizados no ambiente terrestre. Bem, a grande questão é que estes produtos são transportados para além da sua área de ação, adentrando, ocasionalmente, nos ambientes aquáticos e prejudicando os organismos que ali habitam.
Como consequência, alguns contaminantes químicos têm sido banidos em função de seus efeitos em organismos marinhos, como, por exemplo, o diclorodifeniltricloroetano, popularmente conhecido como DDT. Ainda assim, a cada ano novos compostos são sintetizados a fim de cumprir com as demandas da sociedade. No entanto, seus efeitos em ambientes aquáticos e, especialmente, nos organismos, são desconhecidos.
Nos dias de hoje, as concentrações de contaminantes observadas em ambientes marinhos raramente impõe algum efeito letal imediato. Portanto, muitos subestimam os efeitos da poluição nas populações, já que os mesmos não são tão evidentes quanto os observados em outras ameaças, como sobrepesca e degradação de habitat, por exemplo. Mas não deixe que os números te enganem: estes organismos podem estar sendo expostos cronicamente a concentrações que irão causar algum impacto à longo prazo.
Tubarões e raias apresentam várias características que os tornam suscetíveis à acumulação de compostos químicos. Crescimento lento, alta longevidade e altas posições tróficas propiciam a acumulação de altas concentrações de diversos poluentes tóxicos. No entanto, será que eles estão aptos a lidar com estes níveis de contaminação sem prejudicar outras funções? E ainda mais, será que isso está, silenciosamente, prejudicando funções bioquímicas e fisiológicas que poderão estar lentamente modificando a sua resiliência?
Os efeitos da poluição podem estar mascarados em níveis hierárquicos menores, como níveis bioquímicos ou moleculares, os quais, lenta e silenciosamente, prejudicam processos fisiológicos e consomem a energia designada às funções vitais. Imagine que um tubarão tem um orçamento energético destinado à diversas funções do seu organismo como, por exemplo, crescimento e reprodução. No entanto, adicionalmente, este organismo deve lidar com a depuração de compostos externos que estão sendo acumulados. Uma quantidade de energia adicional deverá ser gasta com essa função de depuração, a qual não está prevista. Como consequência, menos energia se torna disponível para as funções básicas do organismo. Além disso, estes compostos normalmente prejudicam vias metabólicas, especialmente aqueles que mimetizam compostos endógenos. Neste contexto, as populações de tubarões e raias podem estar sofrendo efeitos tóxicos silenciosos, como mudanças na sua fisiologia, os quais, em um longo prazo, podem levar a efeitos no nível de organismo e população.